Rafael Borges Ribeiro dos Santos[1]
Neste pequeno escrito tentarei abordar alguns aspectos no que diz respeito a estética presente na obra de Luiz Ruffato - Eles eram muitos cavalos, buscando apontar como tal estética (na perspectiva de Bakhtin) busca sua essência na ética e a partir daí consegue criar sua própria identidade, se caracterizando como uma desconstrução do romance.
Uma característica muito importante da obra, que colabora para essa desconstrução do romance e ao mesmo tempo para a criação de sua identidade é a fragmentação. Está já é anunciada pelo próprio título do livro, que nos sugere a idéia de vários cavalos que passam pela cidade de São Paulo pisoteando-a de maneira cruel e desumana. Tais cavalos, podemos pensar que sejam metaforicamente a representação dos próprios habitantes da cidade, desde a classe social mais alta até a mais baixa, que ao longo da narrativa vão sendo animalizados de forma tão impressionante ao ponto de perderem completamente suas identidades e desse modo criarem a identidade da obra.
Talvez seja esse o motivo de tal obra ter como personagem central a cidade de São Paulo, é como se todos os outros personagens chegassem a um nível primitivo de animalização tão grande, que perdendo a consciência da vida e a capacidade de sentir qualquer sentimento bom, os tornassem ao mesmo tempo indignos de obter um papel de destaque no livro. Toda essa construção textual fragmentada da obra se acentua ainda mais ao incorporar em sua estética diversos gêneros do discurso que vai desde oração, lista de livros, certificados, horóscopo até uma página em preto, que nos sugere várias interpretações.
A sensação que esse recurso gera a um leitor mais atento, é que Ruffato lançando um olhar muito crítico e até um pouco impiedoso sobre as relações éticas presentes na cidade de São Paulo, tenha resgatado dessa realidade os pontos cruciais para o desenvolvimento da estética de sua obra. E a partir daí tenha colocado cada personagem no seu devido lugar, sem a hipocrisia social que mascara os verdadeiros papéis que assumem na vida.
Apoiados nessa visão, podemos pensar que Ruffado constrói a estética do seu livro fazendo um recorte das relações éticas que observa nas grandes metrópoles, porém com um pequeno detalhe. Ao encarnar esses fatos em sua obra, eles ganham um tom realista maior do que os da própria vida, pois estão despidos de um social que ao invés de nos civilizar acabou, ao longo do tempo, por nos tornar mais animais do que fomos nos tempos primitivos de nossa espécie.
Bibliografia
RUFFATO, Luiz, 1961-. Eles eram muitos cavalos. 6 ed. Rio de Janeiro: Record, 2007. 158 p.
BAKHTIN, Mikhail Mikhailovitch, 1895-1975. Estética da criação verbal. [Estetika slovesnogo tvortchestva]. Maria Ermantina Galvão G. Pereira (Trad.). 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997. 421 p
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