quinta-feira, 14 de outubro de 2010

EDUCAÇÃO: UM ATO ÉTICO PERANTE O MUNDO.

Amanda Prado
Graduanda de Pedagogia
Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC

            Como graduanda da 4ª fase de Pedagogia e bolsista de um Curso que busca atender Jovens e Adultos assentados/as das áreas de Reforma Agrária de Santa Catarina, no âmbito técnico, busco nesse texto cumprir o desafio proposto pelo Círculo- Rodas de Conversa Bakhtiniana- 2010. Este tem o propósito de marcar meu primeiro encontro com Bakhtin e seu Círculo e dele iniciar a problematização de ser educadora.
A Educação, nos dizia a filosofa Hannah Arendt (1997), “é o ponto em que decidimos se amamos o mundo o bastante para assumirmos a responsabilidade por ele”, uma vez que este é lugar de uma relação dialógica, onde ao mesmo tempo devemos garantir a continuidade de todo o conhecimento criado pela humanidade e permitir que aqueles que chegam ao Mundo deem novos sentidos e criem novos significados ao que já está posto. É a Educação palco então, de muitos diálogos: daqueles que institucionalmente são destinados a ensinar, professores, aqueles que estão se constituindo e sendo constituídos, alunos, e a trama que nos determina como sujeitos sociais, históricos e culturais.
Talvez se Hannah Arendt tivesse lido Bakhtin para além de uma responsabilidade, falaria de uma Responsividade, pois educar não pode acontecer sem que ambos, Professores e Alunos, compreendendo-se como seres únicos, possam responder as exigências das funções que assumem perante o processo educativo. Nesse sentido, Bakhtin nos ajuda a compreender que o Professor deve ser aquele capaz de colocar-se no lugar de seu Aluno e observar de que lugar estes veem o mundo, para que sendo o Outro Dele, capaz de enxergar além, possa se questionar: “desta forma de ver o mundo, qual o mundo que ele vê? O que está fora disso, ou qual seu excedente de visão? Que Mundo está além para que possa apresentá-lo?”. É este desdobramento de olhares (AMORIM, 2003), ou Exotopia, que permite com que os Alunos, possam enxergar-se através da lente daquele que vê de “fora” e possam continuar nessa incessante busca pela formação proposta pela Educação, ou (in)completude nas palavras Bakhtinianas, que é sempre incompleta, que sempre depende do Outro.
A Educação, portanto, é constituída por uma relação dialógica, entretanto não constitui-se só pelas trajetórias que determinam os sujeitos do diálogo, mas também por aquilo que se busca chegar, pela  memória que construímos no Presente, do Futuro. E é pensando justamente nesta Memória de Futuro que a Educação se coloca. Hoje, entretanto, o que vemos é um sentimento (construído historicamente) que vê na Educação a única capaz de possibilitar um Futuro melhor. Este Sucesso tão almejado se refere a um modelo de sociedade imposta pelo Neoliberalismo que considera o Indivíduo e não o Sujeito, e que maquia as desigualdades (re)produzidas pela Escola (entendida como instituição responsável pela Educação), e gera conformismos através da valoração da diferença individual. Esquece, entretanto, esse ponto de vista que, a Memória de um Futuro deve ser construída coletivamente, pois somos apenas Eu com Outro. Será a busca desse devir consciente que direcionará as atitudes que tomamos no agora. E é no agora que a educação se faz!
Estudar Bakhtin e seu Círculo nos possibilita reavaliar a forma que a Educação tem sido hoje tratada e mais do que isso, nos permite ver que este é um ato ético, pois acontece no momento único em que Professores e Alunos se defrontam e vão entre si constituindo-se e sendo constituídos e é ético perante o Mundo, pois é através dele que garantimos a continuidade do que existe e podemos modificar também essa realidade.
 Mas se somos sempre seres incompletos, mesmo Professores são Alunos e na singeleza desse texto, apenas revelo a incompletude que me deparo e que pretendo em parte compreender através desta experiência que nos aguarda, entre muitos “Eus” e muitos “Outros” que estas “Rodas de Conversas Bakhtinianas” nos proporcionarão, pois nossa Memória do Futuro já anuncia: “este 'acontecimento' nos mostra(rá) a nossa incompletude e constitui(rá) o Outro como o único lugar possível de uma completude sempre impossível” (GERALDI 2003). E que assim seja.    

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS:

AMORIM, M. “A contribuição de Mikhal Bakhtin: a tripla articulação ética, estética e epistemologia”. In: FREITAS, M. T. ; SOUZA, S. J. ; KRAMER, S. (orgs). Ciências Humanas e pesquisa: leituras de Mikhail Bakhtin. São Paulo- Cortez, 2003.

ARENDT, H. “Entre o Passado e o Futuro”. Tradução de Mauro W. Barbosa de Almeida. São Paulo: Perspectiva, 1997.

GERALDI, J. W. “A diferença identifica. A desigualdade deforma. Percursos Bakhtinianos de construção ética e estética”. In: FREITAS, M. T. ; SOUZA, S. J. ; KRAMER, S. (orgs). Ciências Humanas e pesquisa: leituras de Mikhail Bakhtin. São Paulo- Cortez, 2003. 

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