Leila Figueiredo de Barros
Dialogar e interagir talvez sejam as palavras chaves no desenlace deste momento reflexivo, pois quando se pensa em dialogar e interagir busca-se na mente, em primeiro lugar, toda a nossa prática em sociedade, lembrando-nos que vivemos em um “país bonito por natureza”, mas que precisa do outro e das palavras alheias para permanecer ativo e sustentável nesta existência e, dessa forma, a própria natureza apresenta sua resposta.
Visualizemos todas essas belezas: sem a proteção da humanidade, de nada valeriam os esforços dos nossos antepassados. Nada disso teria importância se apenas ficássemos copiando o que vem de fora sem refratar nossa própria existência. Da mesma forma, nota-se que o estilo de um autor está mergulhado na vida, pois, quando escrevemos, reescrevemos, buscando faíscas em palavras alheias, apropriando-nos de conceitos em detrimento de outros, construindo saberes novos e, de tanto olhar o dizer do outro, começamos a criar nossos próprios dizeres e identidade. Ai sim se começa a esculpir um jeito de ser singular.
Para ter Estilo é fundamentalmente necessário observar todas as vozes que nos cercam, sem deixar perder a personalidade. É preciso deixar de ser apenas a pedra jogada no “meio do Caminho” e assumir as rochas que edificam nossas próprias marcas vivenciadas pelo processo dialógico do refletir e refratar. Mas é importante lembrar que, se o estilo é constitutivo e dialógico, assim também nossa vida se constitui através de soma de conhecimento e saberes históricos e sociais.
Vale dizer que o estilo é construído por múltiplas vozes, isto é, aprende-se uma variedade de coisas com outras pessoas, mas retomando o dizer de Bakhtin, entendemos também que somos únicos na discursividade. Pensando na escola, cada sujeito-aluno se envolve com os enunciados alheios, como, por exemplo, dos professores, dos pais, dos representantes oficiais da escola, enfim, das pessoas com quem se pode dialogar de diferentes formas e, para cada discurso, elaboram-se novos enunciados, portanto o estilo do autor vai muito além de simples traços que expressam o sujeito de maneira individual. Compreende-se, então, que o estilo imprime intenção às relações dialógicas em um determinado discurso, tendo como função apresentar forma ao enunciado.
Para mencionar a palavra estilo, numa perspectiva bakhtiniana, é necessário, inicialmente, considerar os enunciados concretos nas diversas formas de enunciação, e a apropriação e re-apropriação destes. É um ir e vir incessante ao “mundo e suas mazelas” alheio (espaço ético), um retorno a si mesmo e um “constituir constituindo-se” também sem fim a própria linguagem, as próprias formas de dizer (espaço estético).
Parece-nos pertinente dizer que o estilo se constitui em diferentes formas de diálogo. Assim, o sujeito está no coletivo e necessariamente, e concomitantemente, constitui sua forma singular. Mas vale agregar, ainda, que essas expressões estilísticas podem aparecer dialogicamente em variadas representações verbais, não-verbais ou visuais.
Em outras palavras, vê-se que ainda é necessário que o aluno experimente o ato de escrever, que ocorra possibilidade do refletir a partir de suas práticas cotidianas e refratar mediante seu estilo e forma composicional. A linguagem precisa ser usada dentro e fora da escola de maneira que viabilize a construção de vários “eus” e contemple o querer dizer de maneira proveitosa para a vida. De forma ampla, Bakhtin nos auxilia a, ao repensarmos o estilo, repensar também construtos teóricos sobre a linguagem, consequentemente, num movimento mais amplo, poderíamos pensar numa educação humanista completa para o ser humano.
Em suma, ser ético e estético nos faz repensar em várias possibilidades, em várias vozes, para assim poder construir nossa identidade, construção esta que depende de cada sujeito, pois é necessário considerar que cada ser humano é personagem de sua própria história, por isso, o estilo ultrapassa os limites gramaticais, frasionais..., passando por um processo arquitetônico. Arquitetônico, sumariamente, nos remete a construção, ressignificação. Assim, vale ressaltar que é de grande importância buscar um estilo para poder viver melhor em comunidade, e também, ressignificar as práticas cotidianas, pois logo se vê que cada ser humano está sempre em busca de algo para completar sua existência.
O estilo é, de certa forma, enxergar cada ser de maneira única e constituído através de outras pessoas. Reconhecemos aqui novamente o dialógico, o interacional. Hoje, em pleno século XXI, as pessoas não querem mais viver de forma insignificante. Buscam dar sentido à sua própria existência, pelos seus enunciados, pelas suas ações dentro da sociedade e, com isso, o homem está sempre renovando e descobrindo novas maneiras para se constituir como um excelente profissional no mercado de trabalho. Em outras palavras, pode-se dizer primariamente que o estilo é um ato de linguagem formado por “múltiplas vozes”.
Referências
BAKHTIN, M. O autor e a personagem na atividade estética. In Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
BRAIT, B. (org.) Bakhtin:conceitos-chave.São Paulo: Editora Contexto,2008.
________.(org.) Bakhtin, Dialogismo e polifonia. São Paulo: Editora Contexto, 2009
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