quarta-feira, 22 de setembro de 2010

A relação professor-aluno: ética e estética caminham juntas?

Jane Fernanda de Godoy Garcia



Pensar como deveria ser a relação professor-aluno hoje na sala de aula, talvez possa ser a solução para um grave problema na educação brasileira: a falta de respeito que o aluno nutre pelo professor.
            Há um grave problema existente hoje na educação: o aluno não vê o professor como ser humano, não o enxerga como profissional da educação, pelo contrário desafio-o, desrespeita-o como se este fosse culpado por ele (aluno) ser obrigado a estar ali, sentado em uma cadeira desconfortável,por durante cinco horas.
Se todos os alunos cumprissem com suas obrigações enquanto estudantes, teríamos metade ou mais do que a metade dos problemas educacionais resolvidos, pois uma das grandes queixas dos professores na rede estadual com a relação à carreira é a da falta de respeito do aluno com o seu professor.
Estamos vivendo um momento muito complicado, as relações humanas estão cada vez mais difíceis: famílias desestruturadas, descompromisso total dos pais com seus filhos, terceirização de responsabilidades, desvalorização do que é certo e valorização do que é errado. O aluno que vive em uma sociedade como esta, consequentemente terá tendência a um comportamento agressivo, fora do comum dentro da sala de aula, pois é nesse ambiente que ele passa de cinco a oito horas[i] do seu dia.  
O que o discente vê: um professor com suas características físicas; às vezes consegue até discernir alguns traços das características psicológicas deste, mas esquece-se que por trás daquela máscara de professor, está um ser humano e, como tal, merece respeito.  Reconhecer o que está por trás do estético, daquilo que ele vê e conseguir enxergar além daquilo que é lhe visível apenas aos olhos, considerar a alteridade do professor, já seria o início para se construir uma boa relação entre professor-aluno-professor.
Pensando no papel do aluno: assistir às aulas, trazer o material, saber falar e ouvir, sentar-se e comportar-se no ambiente escolar, tratar a todos com o devido respeito; quando isso realmente acontece, temos um ambiente de trabalho agradável, harmônico e um bom desempenho escolar.
Quando há uma quebra dessa expectativa, quando o aluno não cumpre com seu papel, com seu dever ético, cabe ao professor tomar as devidas providências de acordo com o que está combinado com a direção escolar e com as normas de convivência (regras) que existem nas escolas. Porém sabemos que há casos em que se extrapolam todos os limites, fatos que nem a intervenção do professor e da direção consegue um bom resultado.
Poderíamos pensar também que às vezes o próprio professor descumpre com seu papel, quando passa a se comportar de maneira não muito profissional, ofendendo, humilhando seus alunos, deixando de lado toda sua ética profissional.  Quando isso ocorre o professor se torna autor daquilo que ele é mais refém, daquilo que ele mais reclama: a falta de respeito. Mas quando ocorre esse tipo de situação, muitas vezes ela está atrelada a uma série de fatores negativos que vem ocorrendo na educação: baixos salários, a constante falta de respeito por parte de seus alunos, desvalorização do magistério, falta de um plano de carreira, salas superlotadas, etc...   
De acordo com Juan Casassus [ii], em entrevista à Revista Nova Escola, “nas instituições em que os alunos se dão bem com os colegas, não há brigas, o relacionamento harmonioso predomina e não há interrupções nas aulas, eles se saem melhor.”
Ora, propiciar esse ambiente favorável à aprendizagem é um resultado de esforços concentrados: professores, alunos e gestores, caminhando juntos para atingir o mesmo objetivo. Percebemos aqui o quanto o estético contribui para o ético, uma sala organizada, alunos, professores e gestores, cada qual cumprindo com seus deveres, respeitando-se mutuamente. O resultado, com certeza será muito positivo.
Sabemos que nem sempre isso ocorre, e quando não acontece a escola perde, o aluno deixa de aprender, o professor se desgasta. Mas então qual seria a fórmula, a receita para termos esse resultado nas escolas?
Aceitar o aluno com todas suas divergências, ser aceito por ele, colocar-se no lugar dele, ele colocar-se no lugar do professor e respeitá-lo, o EU (aluno) relacionando-se com o OUTRO (professor), ou o contrário; estabelecer uma relação dialógica, já seria um bom começo. É na escola que encontramos a diversidade, basta aprendermos a lidar com ela.

Professora efetiva do Governo do Estado de São Paulo (Professora de Educação Básica II), especialista em Língua Portuguesa pela UNESP/ASSIS.
[1] Considerando a escola de tempo integral.
[1] Filósofo e sociólogo chileno que participou de uma pesquisa realizada pela UNESCO sobre a qualidade da Educação na América Latina.

REFERÊNCIAS
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
CASASSUS, J. O clima emocional é essencial para haver aprendizagem. Nova Escola, São Paulo, n. 218, p. 28-30, dez. 2008. Entrevista concedida a R. Ratier.


Osório, E. M. R. (Org.). Bakhtin na prática: leituras de mundo. São Carlos: Pedro Et João editores, 2008.





[i] Considerando a escola de tempo integral.
[ii] Filósofo e sociólogo chileno que participou de uma pesquisa realizada pela UNESCO sobre a qualidade da Educação na América Latina.

REFERÊNCIAS
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
CASASSUS, J. O clima emocional é essencial para haver aprendizagem. Nova Escola, São Paulo, n. 218, p. 28-30, dez. 2008. Entrevista concedida a R. Ratier.


Osório, E. M. R. (Org.). Bakhtin na prática: leituras de mundo. São Carlos: Pedro Et João editores, 2008.

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