terça-feira, 21 de setembro de 2010

Fórum: lugar de conversa em sala de aula.


Jeanine Queiroz Schimpl
Centro Universitário Claretiano

As mudanças dos mais variados setores da sociedade interferem, de alguma forma, nas práticas sociais cotidianas das pessoas. Interessam, para esta reflexão, as questões tecnológicas, especialmente as que promoveram  transformações através das   novas formas de comunicação que surgiram nas últimas décadas.  
A internet tem propiciado, cada vez mais, momentos de interatividade, eventos de comunicação em tempo real, possibilidade de acesso a todo tipo de informação, de entretenimento e de cultura. Hoje, somos milhões de usuário, navegadores e internautas.
            As práticas de leitura e escrita on line  proporcionam o surgimento de novos gêneros textuais, novas situações de  interlocução são utilizadas  em decorrência de uma nova interface, novos sistemas de informação, mas o texto continua a ser uma instância enunciativa, o que prevalece é seu caráter  sociocomunicativo. Textos impressos ou  digitais exigem estratégias e regras que devem ser consideradas para que a  produção e leitura seja um momento de interlocução entre autor e leitor, ou autores e leitores, neste sentido, portanto, não são diferentes.
            O computador promoveu  transformações nas formas de comunicação, espera-se, portanto que as novas tecnologias possam também afetar as relações de aprendizagem nas escolas, não só através do ensino a distância, mas também da educação presencial, que deve usar as tecnologias para a criação de novas práticas didáticas. É possível aprender de muitas formas, de muitos lugares, conteúdos mais variados, mas é preciso que a escola e o professor sejam sempre responsáveis e mediadores dessa forma de construção de conhecimento.
            O ambiente computacional é composto de várias ferramentas que gerenciam e organizam os conteúdos e a forma de comunicação entre os participantes, como “Mural”, Correio, Bate-Papo, Portfólio entre outros, dos quais, neste artigo, se destaca o Fórum de discussão, comunicação assíncrona que  propicia discussão de temas entre  professores e alunos, que, através do próprio  conhecimento do mundo ,  das  vivências, e das  teorias expressa e produz conhecimento coletivo.
            O Fórum é uma ferramenta de discussão assíncrona, pois cada um expressa seu enunciado a seu tempo,  é um espaço de debate onde muitas vozes dialogam na tentativa e construir novos saberes, já que  cada mensagem permite que seja lida e comentada por todos. O fato de a comunicação ser assíncrona traz vantagens ao uso educacional da ferramenta, pois o participante  pode ler, pesquisar e refletir sobre as questões discutidas, pode construir os próprio hipertextos, fazer seu próprio percurso pelas páginas virtuais.
Dessa forma, pode-se afirmar que o Fórum é um espaço que se caracteriza pelas relações dialógicas e interativas, ao contrário da escola em que o processo de ler e construir textos é estranho ao aluno, exterior a ele, práticas de leitura e produção de textos são artificiais, deslocadas de sua função social. Espera-se que as práticas de leitura e produção de textos construídas nesse espaço de interatividade sejam polifônicas e dialógicas, conceitos básicos de Bakhtin que devem embasar todas  as concepções de ensino, mediadas ou não por tecnologias.
Não existe nem a primeira nem a última palavra, e não existem fronteiras para um contexto dialógico. (...) Em qualquer momento do diálogo existem as massas enormes e ilimitadas de sentidos esquecidos que serão recordados e reviverão em um contexto e num aspecto novo (Bakhtin, 1985).

Bakhtin concebe a linguagem como forma de interação social cujo objetivo é a comunicação entre falante/ouvinte, entre um eu e um tu, o que pressupõe um princípio geral a reger toda palavra: o princípio de que linguagem é diálogo. Toda palavra é dialógica por natureza porque pressupõe sempre o outro; o outro sob a figura do destinatário a quem está voltada toda alocução, a quem o locutor ajusta a sua fala, de quem antecipa reações. Isso significa que o sujeito, ao interagir em um ambiente digital de discussão, seja ele um autor que constrói seus próprios textos e relações com um outro.
Portanto, pode-se afirmar que não há aprendizagem se não houver diálogo e interação, ambientes de aprendizagem não são apenas  depositórios de atividades avaliadas ou espaço de orientações para estudo de uma disciplina. Dessa forma, a atuação do professor ou tutor deve ser a de mediador, sua função é estimular o processo de autoria, encorajar os alunos à manifestar suas idéias. O estímulo à interação entre os alunos é essencial para a construção da aprendizagem. As intervenções dos professores e tutores não devem ser restritas a comentários avaliativos, ou simples registro de participação, pois se fecha o diálogo, a interação.
Todos reconhecem os problemas de aprendizagem que há entre estudantes brasileiros, professores se sentem amordaçados por uma concepção de ensino tradicional, baseado na autoridade do professor e do livro didático, alunos não têm voz, são espécies que recebem informações já prontas e acabadas nas atividades desenvolvidas em sala de aula. A utilização de ambientes virtuais, principalmente dos Fóruns de discussão, pode  proporcionar uma real a efetiva aprendizagem através do diálogo entre as múltiplas vozes, de todos os textos, de todos os saberes. Cabe ao professor  refletir sobre as próprias concepções de ensino e fazer das tecnologias uma prática eficiente de construção de saberes.

Referências
BAKHTIN, M. Marxismo e Filosofia da Linguagem. São Paulo: Hucitec, 1985.
 BATISTA, Erlinda Martins; GOBARA, Shirley Takeco. O fórum on-line e a interação em um curso à distância. Disponível em: <www.cinted.ufrgs.br/ciclo9/artigos/8cErlinda.pdf >  Acesso em 11 set 2010
Costa Val, Maria da Graça. Repensando a textualidade. In: Azevedo, José.Carlos (org.). Língua Portuguesa em Debate: conhecimento e ensino. Petrópolis: Vozes, 2001. p. 34-51.
Ramal, Andrea Cecilia. Ler e escrever na cultura digital. Porto Alegre: Revista Pátio, ano 4, no. 14, agosto-outubro 2000, p. 21-24.

Ribeiro, Ana Elisa. Os hipertextos que Cristo leu. In: Araújo, Júlio César, Biasi-Rodrigues, Bernadete (Orgs.). Interação na Internet: Novas formas de usar a linguagem. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005. 

Um comentário:

  1. gostei do seu texto...
    estamos conversando muito sobre isso na disciplina de Estágio 2

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