segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Expectativas iniciais: como os escritos bakhtinianos podem elucidar o trabalho docente?


           
            Raul Luis Paulatti Marostegan - Universidade de São Paulo - USP

            Nestas poucas linhas em que pretendo aqui me debruçar, muito mais que inquietações teóricas a respeito do tema das discussões das rodas desse ano, estarão expostas algumas observações - a causa dos medos e das alegrias de um estudante que há pouco tempo iniciou suas atividades como docente e que, desde então, já pode perceber o quão dura será sua caminhada daqui em diante.
            Apesar de minha carreira ainda representar um nível praticamente “embrionário” dentro do que diz respeito ao grande percurso evolutivo da vida de um professor, posso orgulhar-me de levar comigo, desde o primeiro momento em que decidi que a licenciatura seria o carro-chefe de minha vida profissional, grande parte das reflexões que se inserem na grande concepção sob a qual o ensino e aprendizagem de língua portuguesa vêm sendo analisado nessas últimas décadas. E por mais que considere humanamente impossível que se esteja a par de todos os inúmeros ramos pelos em que tais discussões se desdobram, tenho ao meu lado uma grande aliada: a vontade de aprender. E é sob a guarda dessa vontade, sob o epíteto de “bixo”, em meio aos meus diversos “veteranos” que, humildemente, coloco-me como mais um soldado nessa grandiosa batalha. Embora tenha ciência de que minhas colaborações possam não gerar grandes reflexões, tenho certeza de que meu trabalho será muito enriquecido com os saberes ao quais estarei exposto durante os dias de discussões. E se Bakhtin já considerava a participação do “outro” na criação do processo de significação, por que não (num exercício de comparação muito breve e longínquo, diga-se de passagem) poderia eu estar dando minhas contribuições para que as discussões em torno do ensino e aprendizagem de língua portuguesa?
            As reflexões sobre o trabalho de Bakhtin e também de outros tantos teóricos que adensam o número de colaborações para o desenvolvimento de teorias que reflitam sobre o processo que se desenvolve nas salas de aulas, nas formas diversas de comunicação, fazem parte do cotidiano do aluno de Letras e se tornam muito mais produtivas nos momentos em que nós, estudantes, assumimos a alcunha de professores e conseguimos perceber o elo que se constrói entre o “teórico” e o “prático”.
            No meu caso, tal concepção acaba por fazer maior sentido quando passo a olhar meu trabalho diário como professor, além das práticas vividas também nos momentos dos estágios.
            Há mais ou menos um ano e meio atuando majoritariamente como professor de redação e gramática em cursinhos pré-vestibulares, muitos caminhos me são abertos, todos os dias, nos momentos em que procuro refletir sobre as concepções dos alunos em relação à disciplina que ministro e a sua real função, o seu intuito maior. Dentre as realidades de ensino nas quais me insiro, as questões mais intrigantes são as que são reveladas durante as aulas de redação, laboratórios e monitorias nesses cursinhos. A grande maioria dos alunos, egressos do ensino médio a, pelo menos, um ano, colaboram grandemente para que o trabalho docente seja posto em discussão, todos os dias.
            E é nesse universo de produções escritas, correções, revisões, aulas a serem preparadas e ministradas que vejo a importância dos escritos bakhtinianos não só como guias fundamentais de conduta, mas também como “iluminador” dos caminhos seguidos por toda a ciência que se cria a partir de seu trabalho, que se pauta grandemente em seus dizeres e se ilustra de cores e tons desses maravilhoso espectro de possibilidades que representa a obra do autor.
            Um dia, quando estava ministrando uma aula num curso de redação básica, oferecido por um dos cursinhos onde trabalho, quando aplicava uma sequência inserida em um livro didático de autoria da professora que me apresentou a esse imenso mundo dos escritos de Bakhtin, fui obrigado a ouvir dos alunos que a abordagem feita por mim do conteúdo do curso estava em desacordo com a “real” proposta de ensino que eu deveria seguir.
            A partir dessa situação, pude perceber que surgia um grande entrave no percurso da minha carreira, das minhas concepções de estudante, da minha visão como docente e, principalmente, do meu espírito de pesquisador. O que realmente os alunos entendem em relação ao ato da escrita? Quais são suas concepções sobre esse processo? Será que minha atitude como docente realmente estava equivocada ou, antes disso, deveria eu pensar que meus alunos são frutos de anos e anos de concepções equivocadas em relação ao complexo processo da escrita?
            Dessa forma, a reflexão - não só durante as aulas de Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa, mas também durante as leituras, os estudos e as conversas mais corriqueiras nos corredores da faculdade – acaba se tornando palavra de ordem! E tais entraves, que por alguns momentos realmente conseguem fazer com que o professor, enquanto ser humano, fique abalado, serão realmente utilizados para que uma passo a mais nessa grande caminhada possa ser realizado.
            E dessa forma, ao lado dessa reflexão e dessas dificuldades é que espero que atuem todos os saberes que serão adquiridos a partir desse encontro.
            Considero meu posicionamento, neste texto, muito geral, e espero que todas essas indagações aqui expostas sejam refinadas, respondidas, esclarecidas, para que eu possa sair desse Círculo com uma ideia mais delimitada a respeito de como podemos levar os trabalhos bakhtinianos de uma forma mais efetiva, prática e eficiente para dentro da sala de aula, para nosso cotidiano em meio aos alunos, propondo assim uma união mais forte e produtiva entre a teoria e a prática, entre o saber apreendido na Universidade e o saber comungado fora dela.
            Bibliografia Consultada
BARROS, Diana. “Contribuições de Bakhtin às Teorias do Discurso” in: BRAIT, Beth (Org.). Bakhtin: dialogismo e construção do sentido. Campinas: Editora UNICAMP, 2005.
MACHADO, Irene. “O s Gêneros e o Corpo do Acabamento Estético” in: BRAIT, Beth (Org.). Bakhtin: dialogismo e construção do sentido. Campinas: Editora UNICAMP, 2005.
RUIZ, Eliana. Como corrigir redações na escola. São Paulo: CONTEXTO, 2010.
           

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