Beatriz Aronchi Cruz
Universidade de São Paulo (USP)
Iniciante nos estudos sobre as teorias do Círculo bakhtiniano, meus conhecimentos são ainda bastante elementares. Um conceito, aparentemente simples e óbvio, que me fascinou imediatamente foi o de que a interação dos interlocutores funda a linguagem – e não apenas a linguagem é fundamental para a comunicação, como afirmam os linguistas saussurianos[1]. Esse foi o ponto de partida para minha compreensão do dialogismo bakhtiniano e a faísca que despertou meu interesse para as leituras que poderiam esclarecer melhor os outros conceitos do Círculo, em especial os de ética e estética – que pretendemos discutir em nosso encontro.
Compreendendo a importância das relações que se estabelecem entre o eu e o outro e entre o eu e o mundo, pude chegar ao conceito de ato responsável e participativo (o ato ético do sujeito), às ressignificações bakhtinianas de “ético” e “estético” – tendo como base a divisão kantiana do conhecimento – e à sua arquitetônica. Fico admirada ao perceber como a própria obra bakhtiniana (entendida aqui como o conjunto de seus textos) estrutura-se arquitetonicamente: seus conceitos estão integrados, são indissociáveis, interdependentes. Afinal, teorizar é uma coisa, mas observar como o Círculo conseguiu por em prática seu ideal – concebendo sua obra como objeto estético – é realmente admirável.
Podemos perceber a integração de todos os conceitos quando ao pensar em estética não podemos deixar de pensar nos atos (éticos) do sujeito, que pressupõem responsabilidade, responsividade e avaliação. Daí, lembramos que o agir adquire sentido a partir do mundo dado e que o outro é imprescindível para a definição do sujeito. Quanto à “responsibilidade” do indivíduo em relação aos seus atos[2], pensei no existencialismo de Jean-Paul Sartre (no qual o indivíduo deve ser responsável por suas escolhas) e essa remissão nos mostra o conceito bakhtiniano de dialogismo.
Enfim, fico ansiosa pelas discussões que estão por vir para compreender como a atividade estética se apresenta em nosso cotidiano – especialmente para além dos círculos acadêmicos – e como o ato ético do sujeito é posto em prática, principalmente em uma sociedade em que a falta de interesse, de informação e de estímulo levam tão frequentemente ao descaso e à alienação em relação aos mais diversos assuntos.
[1] BARROS, Diana. “Contribuições de Bakhtin às Teorias do Discurso” in: BRAIT, Beth (Org.). Bakhtin: dialogismo e construção do sentido. Campinas: Editora UNICAMP, 2005.
[2] Expressão utilizada por Sobral no artigo “Ato/atividade e evento” in: BRAIT, Beth (Org.). Bakhtin: conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2008.
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