domingo, 19 de setembro de 2010

Expectativas éticas de atividades estéticas


 
Beatriz Aronchi Cruz
Universidade de São Paulo (USP)

Iniciante nos estudos sobre as teorias do Círculo bakhtiniano, meus conhecimentos são ainda bastante elementares. Um conceito, aparentemente simples e óbvio, que me fascinou imediatamente foi o de que a interação dos interlocutores funda a linguagem – e não apenas a linguagem é fundamental para a comunicação, como afirmam os linguistas saussurianos[1]. Esse foi o ponto de partida para minha compreensão do dialogismo bakhtiniano e a faísca que despertou meu interesse para as leituras que poderiam esclarecer melhor os outros conceitos do Círculo, em especial os de ética e estética – que pretendemos discutir em nosso encontro.
Compreendendo a importância das relações que se estabelecem entre o eu e o outro e entre o eu e o mundo, pude chegar ao conceito de ato responsável e participativo (o ato ético do sujeito), às ressignificações bakhtinianas de “ético” e “estético” – tendo como base a divisão kantiana do conhecimento – e à sua arquitetônica. Fico admirada ao perceber como a própria obra bakhtiniana (entendida aqui como o conjunto de seus textos) estrutura-se arquitetonicamente: seus conceitos estão integrados, são indissociáveis, interdependentes. Afinal, teorizar é uma coisa, mas observar como o Círculo conseguiu por em prática seu ideal – concebendo sua obra como objeto estético – é realmente admirável.
Podemos perceber a integração de todos os conceitos quando ao pensar em estética não podemos deixar de pensar nos atos (éticos) do sujeito, que pressupõem responsabilidade, responsividade e avaliação. Daí, lembramos que o agir adquire sentido a partir do mundo dado e que o outro é imprescindível para a definição do sujeito. Quanto à “responsibilidade” do indivíduo em relação aos seus atos[2], pensei no existencialismo de Jean-Paul Sartre (no qual o indivíduo deve ser responsável por suas escolhas) e essa remissão nos mostra o conceito bakhtiniano de dialogismo.
Enfim, fico ansiosa pelas discussões que estão por vir para compreender como a atividade estética se apresenta em nosso cotidiano – especialmente para além dos círculos acadêmicos – e como o ato ético do sujeito é posto em prática, principalmente em uma sociedade em que a falta de interesse, de informação e de estímulo levam tão frequentemente ao descaso e à alienação em relação aos mais diversos assuntos.





[1] BARROS, Diana. “Contribuições de Bakhtin às Teorias do Discurso” in: BRAIT, Beth (Org.). Bakhtin: dialogismo e construção do sentido. Campinas: Editora UNICAMP, 2005.
[2] Expressão utilizada por Sobral no artigo “Ato/atividade e evento” in: BRAIT, Beth (Org.). Bakhtin: conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2008.

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