terça-feira, 21 de setembro de 2010

ÉTICA NA EDUCAÇÃO: UM ATO A SE PENSAR



Lilian Branquinho (PG/UNIFRAN-PROSUP/CAPES)
Rosana Cardoso (PG/UNIFRAN-PROSUP/CAPES)

Ao pensarmos em ética e estética em Bakhtin, o que nos vem à mente são as questões da responsabilidade e responsividade do ser humano. O filósofo russo diz que o ser humano é caracterizado pela ausência de “álibi”, pois, segundo ele, cada sujeito deve responder por seus atos sem justificativas, e também diz que a posição avaliativa que o sujeito toma é a marca do agir humano, ou seja, é na sua tomada de posição que o sujeito age no mundo.
O ato de responder é um ato ético que envolve o conteúdo, o processo do ato e a avaliação do sujeito sobre o seu próprio ato, diferentemente da ação que pode ser impensada. Dessa forma, o ato de pensar assume uma responsabilidade e uma necessidade ética. O sujeito é levado a pensar na impossibilidade de não pensar tal coisa pelo lugar social ocupado e também pelo contexto histórico em que está inserido, mas tudo isto parte do interior do sujeito. De acordo com Sobral (2005) o agir de cada sujeito está diretamente relacionado ao contexto social e a realidade de mundo e, a junção destes o determina e o cria em termos estéticos.
O homem é responsável pelos seus atos. Um dos principais objetos de análise do Círculo de Bakhtin é o sujeito em seu agir concreto, situado em um contexto sócio-histórico e ideológico. O sujeito age dentro de determinadas esferas de atividade humana que determinam seu dizer, logo se o sujeito é o reflexo do outro, seu discurso estará repleto de outros posicionamentos em seu interior. Eticamente, o sujeito deve sempre responder por seus atos e esta ação responsiva depende do lugar social ocupado por este mesmo sujeito.
Segundo Sobral (2007) Bakhtin opõe moral e ética, para o filósofo a moral é entendida no sentido de conjunto formal de regras aplicáveis a toda situação, já a ética é vista como um conjunto de obrigações e deveres concretos, mas não são construídos como obrigações.
O ato estético está fundamentado nas relações sociais que está inserido o autor, nesse caso, o ato estético é criado pelo agir do sujeito.  A obra estética é construída através da posição exotópica do autor.
No primeiro semestre de 2009 o critério de escolha de materiais didáticos foi palco de muitas discussões na mídia, entre elas a censura de obras literárias. A polêmica se instalou por conta de suposto cunho impróprio das obras. Para os discursos encontrados na mídia a obra de Cristovão Tezza (polêmica ocorrida em Santa Catarina com o livro Aventuras Provisórias) e também o conto Obscenidades para uma dona de Casa (polêmica ocorrida no estado de São Paulo com o conto de Ignácio de Loyola Brandão) possuem um vocabulário pornográfico, que fazem alusão ao sexo. O vocabulário é considerado “chulo”, “impróprio”, “inadequado” para a faixa etária a que foi destinado. O livro Aventuras Provisórias foi destinado a alunos do ensino médio e teve 130 mil exemplares recolhidos, já o livro Os cem melhores contos da literatura brasileira que possui o conto de Ignácio de Loyola Brandão teve como destino os alunos do 3º ano do ensino médio e, tem causado polêmica nas escolas neste segundo semestre de 2010.
Analisando os enunciados-respostas da mídia sobre o ocorrido, na voz de professores, supervisores, diretores de educação e também de Cristovão Tezza, notamos que, de maneira geral, a interdição a estas obras está relacionada à ideologia e aos valores sociais manifestados na esfera escolar. Segundo os discursos encontrados na mídia a linguagem usada nas obras é imprópria e não deve fazer parte da esfera escolar, pois os alunos não estão preparados para entender o vocabulário presente nas páginas dos livros. A grande justificativa para tal censura está relacionada à moral. O que se percebe é que existe uma política do dizer presente na esfera escolar, pois, para a grande maioria dos professores, pais, diretores regionais de educação este tipo de linguagem fere a moral, os bons costumes e a religiosidade das famílias dos alunos. Existem nestes discursos várias vozes, desde aquela que vê o aluno como inocente como também aquela que desqualifica o papel do professor, já que não se considera a capacidade do professor em lidar com este tipo de linguagem em sala de aula.
Diante da censura de obras que possuem reconhecido valor literário ficam algumas inquietações: Por que a escola insiste em apregoar os mesmos valores de décadas atrás? Há uma linguagem adequada que deve ser utilizada na escola? A escola deve moldar seu discurso ao tratar de assuntos relacionados ao sexo? O que é ser um professor e uma escola ética nesse contexto? A censura a estas obras é um ato ético?

REFERÊNCIAS

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Tradução de Maria Ermantina G. G. Pereira. 3ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
SOBRAL, Adail. Ético e estético. Na vida, na arte e na pesquisa em Ciências Humanas. In: BRAIT, B. (org.) Bakhtin: conceitos-chave. 4.ed. São Paulo: Contexto, 2007.

______________.Ato/atividade e evento. In: BRAIT, B. (org.) Bakhtin: conceitos-chave. 4.ed. São Paulo: Contexto, 2007.





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