domingo, 12 de setembro de 2010

A estética e a ética nas relações de ensino e aprendizagem: as narrativas como processo dialógico e de produção de sentidos entre educador e educandos como seres....


Poliana Bruno Zuin
Luís Fernando Soares Zuin

Ao analisarmos as temáticas propostas para o círculo bakhtiniano, muitas reflexões são tecidas em meio a muitas dialogias, o que nos fez pensar em abordar a estética e a ética nos processos de ensino e aprendizagem do ser educador e educando. Bakhtin fundamentado na filosofia do materialismo histórico e dialético nos aponta que nos constituímos nas relações sociais. Relações essas que se configuram em uma estética de cunho cultural e ético, num tempo histórico, a qual denomina de contexto, de forma que as relações humanas se configurariam em um certo contexto ligado a um tempo. Dessa forma, as enunciações, cerne de sua teoria da linguagem, se manifestariam e tomariam forma em meio as produções de sentidos que são decorrentes de experiências e vivências que os indivíduos vão tendo em suas relações sociais. Pensar em Bakhtin e na sua teoria da enunciação nos remete a muitos questionamentos referentes à prática de um sujeito educador, um sujeito que está sendo, como nos diria Paulo Freire, um sujeito inacabado que se forma e se transforma à medida que vai vivenciando e experienciando significados diversos em contextos múltiplos e ímpares.
Professores humanistas, a partir dos nossos diálogos de uma vida a dois, temos nos debruçado à pesquisas referentes aos processos de ensino-aprendizagem em diferentes contextos. Buscamos tecer algumas reflexões sobre o ser educador no seu sentido genuíno. Aquele em que quando dois ou mais sujeitos de encontram, começam a dialogar e trocar significados sociais e sentidos particulares a partir de leituras de mundo que nem sempre coincidem, justamente pelo fato das experiências e vivências serem particulares. Assim, é o ser educador, aquele que possui uma visão estética particular que fôra constituída em seu percurso de relações sociais inúmeras, cuja palavra é sempre proveniente de palavras alheias. Mas, aqui estão algumas indagações: Que estética impera nas relações entre educador e educando? Falamos de qual ética nos processos de ensino-aprendizagem?
Sabemos que a história da educação e, principalmente, dos processos de ensino-aprendizagem, foram demarcados por uma relação autoritária, cuja estética não permitia que o sujeito fosse aquilo que estava sendo. Uma relação verticalizada, em que não dava voz a uma prática dialógica de um ser que se constitui em suas relações sociais junto e com o outro. Uma prática constituída por vivências, ao invés de experiências, uma vez que não se dava a palavra aos educandos a fim de que eles lessem o mundo. Walter Benjamim nos alertou que as narrativas estariam em extinção, devido ao fato de não termos mais experiências. É interessante notar que o autor tece uma reflexão a respeito do que seria vivência e experiência. Para ele, as experiências seriam frutos das relações concretas que o indivíduo tem com o mundo, por exemplo, no caso de relações educativas poderíamos dizer que o educador possui saberes-fazeres advindos de sua prática, saberes esses advindos de suas experiências. Com relação às vivências, o autor diz que esse conceito estaria relacionado aquilo que o indivíduo sabe devido a mediações inúmeras que não necessariamente experienciou, ou seja, o indivíduo sabe pelo fato de ter ouvido falar, de ter lido, enfim, sabe devido à inúmeras formas de dialogias. Ainda com relação a essa diferenciação feita pelo autor, ele nos diz que somente quem teria experiência poderia narrar com propriedade, uma vez que teria o aprofundamento necessário para dialogar com inúmeras temáticas. É diante do exposto, que acreditamos ser as narrativas um dos principais instrumentos de um processo de ensino e aprendizagem significativo.
Muitos são os caminhos para a reflexão do processo de ensino e aprendizagem do ser educador utilizando as contribuições de Bakhtin, mas é a partir de nossas experiências como educadores que a narrativa tem se configurado como fonte de dialogia e de investigação nas nossas práticas educativas tanto as que ocorrem nas salas de aula quanto as que ocorrem em contextos investigativos. As narrativas assim se apresentam como produções de sentido, como leitura de mundo que o educando vai tendo à medida que vai lendo a palavra. Todavia, a narrativa como instrumento metodológico de ensino e aprendizagem, somente pode ocorrer e se configurar mediante uma prática dialógica, horizontal e em parceria. Uma relação cuja ética e estética busca o ser mais. Somente quando educadores tiverem o compromisso com a formação de seus educandos, de torná-los agentes de suas histórias, é que teremos a manifestação das narrativas e a construção de muitas outras.
Para finalizar as idéias aqui apresentadas, necessita de um constante pensar que não se encerra ao longo dessas páginas e que não se constitui em hipótese nenhuma como trabalho acabado, mas apenas na conclusão textual por hora, precisamos refletir sobre a nossa ação docente, sobre o nosso processo de ensino e aprendizagem, sobre o estar e ser em um mundo cercado por relações de ensino e aprendizagem que visam a busca do ser mais. Esse é o nosso compromisso ético enquanto nos configuramos como educadores e educandos.

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