Allan Tadeu Pugliese.[1]
Arte e vida não são a mesma coisa, mas devem tornar-se algo singular em mim, na unidade da minha responsabilidade.
Mikhail Bakhtin
A arte e a responsabilidade
Esses dias, minha leitura se deparou com uma citação de Bakhtin, de um texto que ainda não conhecia, fiquei na dúvida se era do livro “Para a filosofia do Ato Responsável”, por ser um texto que inspira a responsabilidade, ou se era de algum outro livro, pela temática “Arte” se fazer tão presente. Tamanha foi minha surpresa ao saber que era do primeiro texto publicado de Bakhtin, de 1919, “Arte e responsabilidade” (In: Estética da Criação verbal. 4.ed. Martins Fontes. São Paulo. 2003.), um texto que, como disse o Prof. Valdemir Miotello: “tem traços de quase todos os trabalhos posteriores de Bakhtin... como se ele fizesse um resumo de toda sua obra posterior em seu primeiro texto”.
Parei para pensar a data que esse texto foi publicado, 1919, o jovem Bakhtin, com apenas 24 anos, conseguiu praticamente pensar em toda sua obra posterior, “que genialidade!“. Logo, fiz uma relação da idade de Bakhtin com a minha, tenho agora 23 anos, e me senti tentado em escrever algum texto com tamanha proeza, algo que me levasse a esse mesmo caminho, um resumo de todas as minhas memórias de futuro, para quem sabe, quando alguém ler meu último estudo, ver todos os traços em meu primeiro texto. Rapidamente percebi que isso era praticamente impossível – Bakhtin teve uma juventude com muito conhecimento, como vemos no livro que transcreve sua última entrevista, em 1973, nas conversas com Duvakin, “aos 15 anos ele já tinha lido tudo que era importante” – eu, pobre “mortal” há apenas um ano comecei a ler intensamente.
Ao chegar a essas conclusões não desanimei, afinal esse não poderia ser meu álibi para desistir. Ora pois, que eu escreva esse textos daqui a 10 anos, após “ler tudo”, ou melhor, Bakhtin “conversou” com tantos pensadores até os 15 anos, e eu posso “conversar” com eles e com Bakhtin em menos tempo, ainda me senti capaz de fazer algo, mas não agora. Porém uma conversa no GEGe me deu um belo foco para esse pensar.
Nossa responsabilidade
“O mundo mudou, o capitalismo e o socialismo não explicam mais como o mundo funciona e nem como ele deveria funcionar, cabe a nós, lingüistas e filósofos da linguagem, pensar como o mundo funciona!”. Disse mais ou menos assim o Prof. Valdemir Miotello em uma das nossas belas manhãs de sexta-feira. Nossa, que temática interessante! Que responsabilidade pensar sobre isso! Será que dou conta?
Logo veio a mente o trecho do livro “Para uma filosofia do ato responsável”, pagina 63, trecho este que, até o momento, mais marcou minha leitura, e até mesmo minha vida.
Uma empatia passiva, o ser possuído, a perda de si, não tem nada em comum com a ação-ato responsável do renunciar a si mesmo ou da abnegação: na abnegação eu sou maximamente ativo e realizo completamente a singularidade do meu lugar no existir. O mundo no qual eu, do meu lugar, no qual sou insubstituível, renuncio de maneira responsável a mim mesmo, não se torna um mundo no qual eu não estou, um mundo indiferente, no que diz respeito ao seu sentido, à minha existência: a abnegação é uma realização que abraça o existir –evento. (BAKHTIN, XXXX, p. 63)
É minha, sua e de todos a responsabilidade de pensar no futuro, ajudar a planejá-lo. Abnegar-se dela é assumir que da maneira como o mundo está basta! E isso não! A indiferença não constitui.
Um novo amanhã
Pensar o mundo de uma forma Materialista dialógica! Essa é a nossa missão como bakhtinianos para essa década. Talvez eu precise da vida inteira para escrever sobre isso, mas não posso abnegar-me de constituir o mundo! Essa abnegação seria a possibilidade de outras correntes escreverem, elas já fizeram isso, chegou a nossa hora. Chegou a hora da linguagem ser a mediação para o entendimento das mudanças, chegou a hora dos lingüistas também repensarem o mundo!
Referências Bibliográficas
BAKHTIN, M. Estética da criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
______. Marxismo e Filosofia da Linguagem. São Paulo: HUCITEC, 2004.
______. Para uma filosofia do ato responsável. São Carlos: PEDRO & JOÃO EDITORES , 2010.
______. ; Duvakin V. Mikhail Bakhtin em diálogo : conversas de 1973 com Viktor Duvakin. São Carlos: PEDRO & JOÃO EDITORES , 2008.
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