Ester Myriam Rojas Osório
UNESP/Assis
O discurso humorístico que chega vestindo uma roupagem de estrutura coloquial, causal e despojada, não deve ser confundido com um gênero discursivo primário, segundo o conceito Bakhtiniano, este pertence a um discurso mais elaborado, já que o autor consegue fazer uma leitura da vida cotidiana, como também, consegue utilizar a palavra do outro, e dos outros (cidadãos comuns que se encontram influenciados por um tempo histórico) junto a um plurilingüísmo social e individual, ou seja, dando amostra de dialetos em determinado momento histórico - e deste modo -fazer uma crítica oportuna aos valores éticos e estéticos que estão presente na sociedade pós-moderna.
Sabemos que o autor, através de uma estrutura discursiva aparentemente simples, não entrega todos os elementos necessários para que o leitor consiga o diálogo sem maiores esforços, este por sua vez tem que entender a reprodução do contexto que lhe é oferecida além dos recursos lingüísticos tais como: expressão gráfica, efeitos onomatopéicos, recursos visuais, diferentes níveis espaciais etc.
O discurso humorístico pós-moderno denuncia os males sociais que martirizam ao homem nos dias de hoje, da mesma forma que na Idade Média fazia ouvir sua voz na praça pública quando satirizava as estruturas sociais, o quando mais tarde, na época clássica em forma estilizada se transformava em literatura satírica, cômica, irônica e crítica. Desta forma, vemos que a linguagem sempre tem funcionado como uma manifestação viva das relações culturais.
Como professores de Língua Espanhola como Língua Estrangeira (LE), cientes que a palavra funciona como agente de memória social, aproveitamos o discurso escrito por Pepo, autor chileno, publicado o ano 2009 pela Editorial Televisa Chile, e o apresentamos como motivação para que o aluno de Letras faça sua própria leitura interpretativa da realidade e a utilize como auto-conhecimento. Assim, fazemos uma reflexão com nossos alunos aprendizes de Espanhol LE - todos menores de 20 anos – sobre temas como: ética, estética, identidade, responsabilidade, valorização da diferença, etc.
A metodologia de trabalho consistiu:
- Leitura do discurso humorístico
- Discussão em grupo sobre o tema
- Respostas às perguntas feitas pelo professor
Em continuação, apresentamos o Discurso Humorístico de Pepo e as respostas dadas pelos alunos às perguntas feitas pelo professor.
Atividade dos Alunos
Após a leitura do Discurso humorístico e tentando entender a leitura de mundo que é oferecida pelo artista a través dessa narrativa estética. Fazemos algumas perguntas a nossos alunos:
· Qual é a importância da imagem nos dias de hoje?
· Qual é a responsabilidade dos meios de comunicação nessa ditadura da beleza e de que tipo de beleza nos estamos falando?
· Qual é a responsabilidade de cada um sobre sua imagem?
Os alunos do II ano de Letras respondem, na Língua Estrangeira, utilizam um discurso curto, mais claro e bem elaborado:
A1.- La mídia hoy influencia la importancia de la imagen, así como la industria de la moda, ropas caras, peluqueros, todo para sentirse bien.
Su importancia es evidente hasta en el mercado de trabajo, que muchas veces lleva encuenta la apariencia principalmente en los casos en que el funcionario tiene que representar la empresa, como vender una mercadería o servicio.
Hoy vemos personas cambiando su cuerpo para ganar un empleo, para encajarse en un patrón de belleza determinado o para parecer más joven.
Yo opino que la persona no tiene que cambiar a tal punto de no parecerse más con su imagen, no es necesario cambiar su belleza natural embutida en su genética.
A2.- Hoy en día la imagen es algo muy importante por influencia de los medios de comunicación. Ser bonito y flaco es esencial para quien trabaja en ese medio como periodistas, actores, actrices, modelos, presentadores, cantantes, etc. Y muchos de ellos sirven de modelos para los telespectadores, estos que hacen de todo para ser iguales.
Hay otras personas que no son influenciadas, pero asímismo gastan muchísimo dinero en cirugías plásticas. En cierto punto están correctas, pueden gastar su dinero en lo que quieran, el problema es cuando esto se convierte en una obsesión, cuando la salud se compromete.
Todos tienen su propia belleza y no hay porque exagerar.” Las personas que te aman te aman tal como eres, es una gran tontería copiar a alguien famoso, pues él es una persona normal como tú”.
A3.- Hoy vemos la tele y nos quedamos frente a frente de rostros lindos, muy bien maquillados, casi sobrenaturales, en las propagandas estos rostros se repiten, ellos hablan implicitamente y dicen “usted tiene que ser como nosotros” Para conseguir esta belleza hay que gastar mucho dinero en cosméticos y plásticas que te harán eternamente joven.
Pero nadie se pregunta sobre los males que esa publicidad deja: chicos llenos de complejos, chicas que no comen con miedo de engordar, adultos que a pesar de su experiencia no se quedan bien con sus cuerpos.
Delante de esas afirmaciones hay que hacer una reflexión sobre la influencia de los medios de comunicación en nuestras vidas y considerar la posibilidad de salir de frente de la tele y marar más para los lados donde hay gente de verdad.
El otro, aquel de las publicidades es todo lo que nosotros deseamos, ese otro es eternamente joven y lindo. Ese otro perfecto es una tentación para mi imagen: “quiero ser igual a él”. De esta forma, en poco tiempo no quiero tener más este rostro y este cuerpo, deseo ser otro. Acá comienza la fantasía y la locura que los medios de comunicación nos impone sobre la directa influencia del capital.
A4- Cada vez que asistimos la televisión siempre vemos propagandas y la mayoría nos enseñan productos de belleza que dicen dejarte más bella y sin arrugas, junto a estas propagandas siempre hay mujeres lindas, con la piel más linda del mundo, donde se crea la ilusión de que te quedarás así también, pero, claro, es mentira. Además de eso, los productos llaman tu atención diciendo: “si los usas te quedarás bella como las personas famosas”. Lo que te hace pensar: “ pues si no lo uso no seré famosa, ni bella”, entonces voy a comprarlo, o sea te iluden.
Os estudantes de Letras concordam em que hoje em dia existe uma incrível valorização da imagem e que esta ditadura da beleza e da perfeição estética é produto da grande penetração da TV nos lares brasileiros. Como conseqüência desta febre que contamina tanto os jovens como os adultos, encontramos muita gente com a saúde tanto física como psíquica comprometida, por exemplo, os jovens anoréxicos.
Entendendo algumas questões um pouco além do já visto
Quando falamos do mundo globalizado pós-moderno segundo alguns autores como MOITA LOPEZ (2008), em geral, trata-se do mundo anglo-saxônico herdeiro da globalização ocidentalizada, cuja origem encontra-se nas expedições de descobertas do século XVI, onde “os movimentos civilizadores levavam as verdades aos outros povos – bárbaros e indígenas”. Assim, constatamos que a idéia da beleza estética como a do padrão europeu vem dessa época, esta é a verdadeira ideologia que nos apresenta, sem transparência nenhuma, a televisão, ou seja, um projeto totalmente irresponsável que visa à renovação de nossa existência como povo mestiço afro-descendente e indígena de América Latina.
Quando a personagem de Pepo, Comegato, quer apagar a suas características étnicas, pensa que, assim ele tem a possibilidade de experimentar a vida dos outros, desta forma, sai de suas certezas, aparentemente, apaga as diferenças e com isto ele esta liberado a viver como ser humano hibrido, pós-organizado e pronto para Servir o novo Deus chamado “Mercado”, mas ao ficar frente a frente de seu espelho, que é seu próprio filho, não se reconhece.
Este tema é tratado com muita destreza pela diretora e roteirista, Claudia Llosa, no filme “A teta assustada”, premiado no festival de Berlin e da Havana. A autora mostra como: a segunda geração das comunidades indígenas que já, despejadas de suas terras, vivem nas favelas das grandes cidades, longe de toda certeza e da proteção da Patchamama, acuados num lugar estranho e caótico, se vem obrigados a reestruturar sua experiência de vida e tratar de encontrar sentido a esse novo espaço.
Ao respeito os sociólogos como CASTELLS: 2008 falam de espaços de negação, onde as comunidades étnicas, já em sua segunda geração, carregando no rosto o peso da diferença, vivem nas capitais, e como as possibilidades de trabalho estão de acordo com a sua preparação, lhes resta o acesso a serviços menores, ou seja, a negação do futuro, e assim permanecem isolados em subúrbios de difícil acesso. Entre outras coisas, como para tentar ser aceitos socialmente, são obrigados a negar seu passado e suas crenças, os cientistas alertam que estes espaços podem se converter em espaços de fúria coletiva.
Resta fazer-nos algumas perguntas: Os médios de comunicação não teriam alguma responsabilidade ética neste processo? Ou qual é o papel dos meios de comunicação na construção pessoal dos sujeitos?
Se pensarmos na ética, como conceito desenvolvido por Bakhtin, conjunto de obrigações e deveres, e por tanto, cada sujeito deveria responder por seus atos. Ao ter esta carga de responsabilidade pode interferir sim, de forma dialógica na vida de outros sujeitos, este seria o respeito ao vir-a-ser do outro, respeito à diferença.
Reflexões Finais
Neste trabalho, do lugar social de professora, pedagoga e pesquisadora, uma vez mais tento mostrar que a aula de Língua Estrangeira deve ir além da prática de vocabulário, de repetição de textos e de exercícios gramaticais, modalidade de ensino que vê ao aluno como um receptáculo vazio na espera de ser preenchido. Que o Ensino de uma LE não se deve limitar a completar espaços vazios, esperando uma compreensão lineal do texto, que não significa apenas oferecer turnos secundários aos alunos, que saber uma Língua é muito mais que conhecê-la é vivê-la num contexto sócio-histórico e que a responsabilidade ética do professor vai muito além de tudo isso.
BIBLIOGRAFIA
BAKHTIN, M. Marxismo y Filosofia da Linguagem. SP: Hucitec, 1997.
BAKHTIN, M. Para una Filosofia do Ato Responsável. (Miotello e Faraco Trad). São Carlos: Pedro e João Editores, 2010.
BRAIT, B. Bakhtin Conceitos- Chave. SP: Contexto, 2008
CASTELLS, M. Observatorio Global. Crónicas de principio de siglo. Barcelona: Editora La Vanguardia, 2006.
GARCÍA VELAZQUEZ, C. Hegemonía e interculturalidad. Poblaciones originarias y migrantes. B. Aires: Prometeo,2008.
GRÜNER. Estudios culturales, reflexión sobre el multiculturalismo. Buenos Aires: Editora Paidos. 1998.
MIOTELLO, V. Ideología. In: BRAIT (Org.) Bakhtin conceitos chave. SP :Contexto, 2005.
MOITA LOPES, L. P. (org.) Por uma Lingüística Aplicada Indisciplinar. SP: Parábola Editorial, 2008.
OSORIO, E.M.R (org.). Bakhtin na Prática - Leituras de Mundo. São Carlos: Pedro e João Editores, 2008.
PAREKH, B. Repensando el multiculturalismo. Madrid: Istmo, 2005.
STAM, R. Bakhtin da Teoria Literária à Cultura de Massa, SP: Ática, 1992.
Nenhum comentário:
Postar um comentário