Sebastiana A. Souza: tianaalmeida@gmail.com.
Consideramos, neste trabalho, a Educação Inclusiva, entendida aqui como uma modalidade que vem sofrendo alterações relevantes, na medida em que as políticas educacionais se encaminham no sentido da inclusão de todas as crianças em turmas do ensino regular.
Assim, ao refletirmos sobre este processo no contexto educacional, constatamos as dificuldades existentes referentes à aceitação ou não dessa clientela e, principalmente, por outro lado, entendemos esse ensino como um método diferenciado que seja centrado no sujeito e não nas suas incapacidades. Tais situações que ocorrem frequentemente nos fazem refletir acerca da nossa posição enquanto educadores frente ao outro, aquele a quem, comumente, chamam o diferente.
Nesse sentido, recorremos ao ato ético da inclusão das pessoas com necessidades educacionais especiais em todos os espaços sociais, pois Bakhtin refere-se ao processo, ao agir no mundo, á necessidade de ocupar o lugar singular e único no mundo, idéia que se liga diretamente á realidade em questão.
Tratar a ética em Bakhtin significa pensar a integralização arquitetônica das dimensões do sujeito humano “na unidade da responsabilidade”. Responsabilidade de todo e qualquer sujeito humano, seja “normal” ou “especial”.
Desse modo, ao analisarmos o cotidiano do aluno na esfera educacional , seu processo de sujeito como alguém que tem seus direitos garantidos, mas também como alguém responsável e com condições psicológicas, sociais e cognitivas para estar incluso dentro do contexto, que traz consigo discursos verbais e não-verbais, explicitados através dos seus atos e pensamentos, consideramos ser possível a efetivação através do conhecimento construído, baseado no diálogo e na interação. Sob esse prisma, Bakhtin afirma que todo discurso é responsível porque todo discurso é dialógico e porque o sujeito responde por seus atos no mundo, porque ele é responsável por eles. O ato respondível corresponde, então, ao ético, pois envolve o conteúdo do ato, o seu processo, valorado(avaliado) pelo sujeito com respeito ao seu próprio ato, quando reflete sobre ele e lhe dá um acabamento (estético) do agir do sujeito.
Podemos, assim, associar ao desenvolvimento do processo da Educação Inclusiva no Ensino Regular a questão do Ético/Estético, visto assim como a concretização dos atos desses sujeitos como ato estético, como valorização de suas linguagens e enunciados, portanto, com acabamento e não necessariamente acabada/rotulada acerca da ação ética realizada pelo sujeito.
Nesse sentido, há de se notar alguns aspectos a serem observados: contexto social, identidades criadas e assumidas, relação de sujeição e interação, pois é perceptível que os vários discursos criados, elaborados e finalizados referentes á concepção da Educação Inclusiva encontram-se impregnados de apreciações valorativas que os seres humanos possuem uns dos outros, muitas vezes vista de formas expressivas (por ações) e não verbalizadas e ,infelizmente equivocadas. Entrevemos , aí, uma estética de preconceito.
Há de considerar que, para que haja quebra de paradigmas, o processo dialógico deve ser um espaço de reflexão e de concepções de novas idéias e novas formas de expressão sobre o outro, pois viver numa sociedade globalizada exige do ser humano conhecer o outro e acima de tudo se ver no outro e se constituir pelo outro.
Desta maneira, podemos pensar dentro do contexto escolar num espaço ético/estético no desenvolvimento do trabalho pedagógico com esses sujeitos, reafirmando a questão da concepção estética através do resultado de representar o mundo do ponto de vista da ação exotópica (de fora, distante) do sujeito fundado no social e no histórico associado á ética bakhtiniana, que corresponde ao espaço de decisões cronotópicas no hic et nunc concretos do agir humano. Neste processo, o ser humano tem o compromisso do ato de pensar, que se opõe como uma necessidade, entendida assim como o lugar que ocupa no mundo, consegue dizer o que diz daquele lugar, tendo a obrigação de pensar e dizer o que vê e pensa sobre o mundo, sendo o sujeito responsável por todos os momentos constituintes de sua vida porque seus atos são éticos.
Portanto, sob o prisma do ético/estético na efetivação do processo de inclusão no ensino regular, faz-se necessário refletirmos acerca das nossas atitudes e ações referentes à nossa relação com o outro, principalmente na concepção de nos avaliarmos primeiramente, ter consciência do que somos e acima de tudo conhecer o outro numa perspectiva ética/estética de interação na construção da verdadeira inclusão social.
Referências
BAKHTIN. Estética da Criação Verbal. SP. Martins Fontes, 2003.
BRASIL. Política Nacional de Educação Especial: MEC, 2008.
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