Por Lara Martins de Almeida
Universidade Federal de Juiz de Fora
Bolsista BIC/UFJF
Cada indivíduo possui uma memória de sons, imagens, sensações e sentidos acumulados ao longo da vida. Estas memórias recebem o nome de acervo ou repertório e permitem que cada indivíduo interprete o mundo a sua volta de maneira única, singular, uma vez que somente ele, do lugar que ocupa no mesmo, pode dizer o que diz e pensar o que pensa de forma que se torna sua responsabilidade fazê-lo, pois nenhum outro vê o mundo do mesmo lugar.
O homem manifesta-se no mundo através da arte e é também através do contato com a arte que ele amplia seu repertório. Pela mediação da obra de arte, o artista assume uma posição ativa a respeito do mundo. A arte é a visão exotópica do outro sobre o mundo, visão esta que me completa nos elementos em que não posso completar-me. A arte deve transformar minha vida, e esta deve transformar a arte.
Volto meu olhar para o cinema como arte, como produção humana. O cinema nos permite um olhar sobre o olhar do outro. Através das múltiplas linguagens do cinema (música, imagens, diálogos, gestos) o filme nos coloca em um lugar exotópico sobre a visão do outro (roteirista, diretor) acerca de seu tema. Esse olhar exotópico nos permite ampliar nosso repertório, nosso excedente de visão.
Relacionando o cinema com a formação de professores, ao participar como bolsista de iniciação científica BIC/UFJF[1] da pesquisa “Computador-internet e cinema como instrumentos culturais de aprendizagem na formação de professores”[2] do grupo Linguagem, Interação e Conhecimento (LIC-UFJF), coordenado pela professora Maria Teresa de Assunção Freitas, pude perceber a importância de se trabalhar a leitura imagética e a reflexão sobre os filmes em sala de aula, uma vez que estas aumentam o olhar crítico, a capacidade de interpretação e de construção de sentidos dos indivíduos. Como bolsista, este semestre em função do próprio tema da pesquisa e da questão do subprojeto V[3] coordenado pelo doutorando Sérgio Leal Medeiros, ajudei na apuração dos questionários aplicados nas turmas de graduação em pedagogia da UFJF sobre sua relação com o cinema. Constatei que o cinema é um instrumento cultural de aprendizagem ainda pouco explorado nas escolas e na formação do professor, ele ainda é visto como um instrumento ilustrativo de conteúdo ou só como instrumento de entretenimento. Ao perguntar quais os gêneros indicados para se trabalhar cinema na educação o resultado de maior incidência foram documentários e filmes históricos e a resposta de maior incidência para a pergunta do filme preferido foi “Escritores da liberdade”.
O cinema trabalhado na educação não deve ser apenas aquele dos filmes que falam sobre escola ou se passam dentro da escola, pois limitam a visão do aluno, é importante que sejam vistos e discutidos filmes de gêneros variados, que tratem assuntos diversos, filmes de fora do circuito comercial, de diferentes países, que possibilitam contato com culturas diferentes, com uma visão de mundo diferente.
O cinema é tão importante em nossa formação cultural e educacional quanto a leitura literária, filosófica ou sociológica, pois, ele nos leva a pensar sobre o mundo de forma crítica e reflexiva e a entender as variedades culturais presentes na sociedade em diferentes momentos.
Precisamos educar o olhar, trabalhar o cinema e com o cinema na escola, conversar com o filme e ir além de apenas conversar sobre o filme. Estabelecer uma relação dialógica que possibilita nos completarmos através do olhar do outro.
Referências
FREITAS, M. T. A. Computador-internet e cinema como instrumentos culturais de aprendizagem na formação de professores. 2010-2014. 57 f. Projeto de pesquisa-Grupo de pesquisa Linguagem, Interação e Conhecimento, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2010.
Escritores da liberdade (Original: Freedom Writers) Direção: Richard LaGravenese . Produção: Danny
DeVito, Michael Shamberg, Stacey Sher. País: EUA/Alemanha - Gênero: drama Duração: 123 min. Ano: 2007.
BAKHTIN, Mikhail. A arte e responsabilidade. In: Estética da criação verbal. São Paulo: WMF Martins fontes, 2010. 5ª Ed. P. 33-34.
FREITAS, Maria Teresa de Assunção. Bakhtin – Bakhtin e a arte. In:Vygotsky e Bakhtin: Psicologia e Educação: um intertexto. 4. ed. Juiz de Fora: Ática, 2003. Cap. 5, p. 142-149.
JÚNIOR, Ivo di Camargo; PAULO, Sidney de. Entrecruzando estéticas para tentar definir a linguagem cinematográfica. In: Grupo de estudos do gênero do discurso GEGE. Arenas de Bakhtin – linguagem e vida – São Carlos: Pedro & João Editores, 2008.
AMORIN, Marília. Cronotopo e exotopia. In: BRAIT, Beth (org). Bakhtin: outros conceitos-chave – São Paulo: Contexto, 2008. p. 95-114.
EITERER, Carmem Lucia. Educação, cultura e cinema In: Presença pedagógica: O corpo que dança. Belo Horizonte: Dimensão, v.11, n.66, nov. /dez., 2005.
EITERER, Carmem Lucia; Teixeira, Inês; PEREIRA, Maria Antonieta. Educando para a leitura de imagens, telas e textos. In: Presença pedagógica: O Teatro na Educação Básica. Belo Horizonte: Dimensão, v.12, n.69, mai. /jun, 2006.
ORMEZZANO, Graciela. Educação estética In: Presença pedagógica: “Arte na Educação não é mero exercício escolar”. Belo Horizonte: Dimensão, v.14, n.80, mar/abr., 2008.
[1] Bolsa de Iniciação Científica desde agosto 2010.
[2] Pesquisa financiada pelo CNPq e FAPEMIG.
[3] Compreender os modos pelos quais tem sido apropriadas e estudadas as relações entre o cinema e a educação no curso de Pedagogia e Licenciaturas da UFJF, construindo com seus alunos e professores uma experiência formativa com imagens fílmicas no ambiente educativo, visando compreender como se dá a fruição dessas peças fílmicas no ambiente educativo, visando compreender como se dá a fruição dessas peças fílmicas no processo de aprendizagem.
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